O BOM HUMOR INTELIGENTE DA FAMÍLIA

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

OS TALENTOS DO CASAMENTO

O Sultão e suas três filhas.

Era uma vez um Sultão, senhor rico e poderoso, que chamou três dos seus servos:
Abud, Abdala e Calixto, e lhes disse: vou fazer uma longa viagem e queria confiar a vocês o meu verdadeiro tesouro: minhas três filhas, Shaila, Maira, e Raíra.
Vocês vão se casar com elas e vão cuidar bem delas até eu voltar.
Para o Abud confiou Shaila a mais velha e inteligente, ao Abdala, Maira a do meio, a mais prendada no serviço doméstico, e ao Calixto a Raíra a mais nova e mais bonita!
E então o Sultão viajou.
O Abud logo fundou uma escola com a Shaila, que se tornou uma grande faculdade e sua esposa tornou-se uma escritora reconhecida internacionalmente como uma mulher educadora culta e sábia.
Abdala aproveitou os talentos de Maira e abriu um restaurante e uma rede de alimentos naturais, para todo o país, e se tornaram muito ricos.
O Calixto, porém, inseguro e medroso, morreu de ciúmes da Raíra por ser nova e bonita, trancou-a dentro de casa e não a deixou relacionar-se com ninguém,
Raíra aos poucos foi se definhando, tornando-se infeliz e deprimida, tentando o suicídio várias vezes!
Depois de muito tempo o Sultão voltou para seu país e foi visitar suas filhas:
A casa da Shaila era um palacete e Abud seu genro veio recebe-lo em traje de gala com a Shaila e seis dos seus filhos!
O Sultão lhe abraçou, beijou e lhe disse: Muito bem servo bom e fiel, cuidaste bem de minha filha e me destes seis netos, vou lhe dar o resto de minha herança!
Vamos festejar!
Ao chegar na mansão do Abdala os mordomos vieram recebe-lo com presentes de sua filha Maira, que lhe esperava a mesa com um banquete e com seu marido Abdala e seus quatro filhos.
O Sultão alegre disse a Abdala: Bem estar servo bom e fiel, cuidasse bem de minha filha, e tenho mais quatro lindos netos, vou lhe enriquecer mais ainda.
O Sultão foi visitar sua filha caçula, mas ela não estava em casa, estava hospitalizada num centro psiquiátrico, ao entrar no quarto o Sultão nem reconheceu sua filha, pois ela estava totalmente desfigurada!
O Sultão olhou para Calixto com desprezo, raiva e lhe disse: Servo mal e negligente, deixei minha filha com você, uma menina nova, linda, cheia de sonhos, e o que você fez com ela? Maldito marido! Vou levar minha filha de volta pra casa.
Você será enforcado hoje mesmo!
Seu nome será apagado da minha família e você será esquecido para sempre.
“Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E ao servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.
Estória baseada em Mateus 25;14
Jasiel Botelho

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

AMOR A FORÇA, OU A FORÇA DO AMOR?

“Põe-me como selo sobre o teu coração,
como selo sobre o teu braço,
Porque o amor é forte como a morte,
E inexorável como o Sheol a paixão,
Sua chama é chama de fogo
Veementes labaredas de Javé

As muitas águas não poderiam apagar o amor,
Nem os rios afogá-lo;
Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado”

“que acreditam nas flores vencendo os canhões.”

Este verso faz parte da bem conhecida canção de Geraldo Vandré – “Prá não dizer que não falei de flores”. Canção de protesto e de luta. Uma canção de resistência.
Flores e canhões.
Flores são a maneira silenciosa e carinhosa de expressar o amor. Os canhões, por sua parte, o poder.
Queremos meditar brevemente sobre o tema: Amor e Poder.
Amor entendido como sendo mais que um sentimento. Uma relação. Relação de dois iguais, mulher e homem, garoto e garota.
Poder compreendido, não como uma dominação aberta, declarada, porém, sutil, velada.
E isso no livro de Cantares.
Nele entramos pela porta dos fundos, como quer o verso 7b

“Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado”

Esse aforismo é a janela na qual debruçaremos para olhar essa coleção de poemas. Esse dito é meditação de sábio que redatou o livro de maneira a construir uma instrução sobre o amor enquanto relação.
Tal instrução quer mostrar a beleza exultante do amor entre homem e mulher e o poder que ameaça de contínuo essa relação.
O amor é descrito de forma poética, romântica, terna. É um exagero que não pode ser expresso nem com “mil rosas roubadas”. É a convivência apaixonada da mulher com o homem, do garoto com a garota.

“Eu sou para meu amado e seu ardente desejo o traz a mim. Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas; vejamos se já florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-ei ali meu amor.” 7.11-13

Numa paisagem bucólica e afrodisíaca, o encantamento mútuo destila toda emoção, prazer e sensualidade que pode existir num leito à relva, na penumbra dum quarto.
A paixão da relação chega às raias dos sonhos, devaneios:

“sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor.” 2.5

A imaginação rompe as barreiras do impossível, atravessa os vales do insondável e vai repousar sobre o corpo da amada, do amado.
É a linguagem do amor. Amor criado com carinho, alimentado com paixão. É o amor conquistado com palavras doces e suaves, mágicas, buquê de flores, gestos amenos.
Poesia e sedução, alegria e emoção. Que rio pode afogá-lo? Que águas apagá-lo?
Entretanto, à espreita está o poder, a dominação sutil e cotidiana.
O sábio sabe da ameaça e procura divisá-la. E o faz tomando Salomão como figura idealizada daqueles que exercem o poder como determinante das relações.

“Cântico dos Cânticos sobre Salomão.” 1.1a

Os Cânticos não são de Salomão, nem para ele, senão sobre Salomão, isto é, o cantar dos Cantares é uma veemente crítica ao modo como “Salomão” trata o amor, como “ele” age numa relação a dois.

“O rei me introduziu nas suas recâmaras.” 1.4b

O ato de introduzir requer certa imposição. A moça foi levada à força para os aposentos do rei, que depois de possuí-la, lança-a no harém, lugar de esquecimento aonde vão as mulheres não amadas, compradas, exigidas como tributo, exibidas como troféu.

“Sessenta são as rainhas, oitenta a concubinas e a virgens sem número.” 6.8

Tal é o harém!

“Que é isso que sobe pelo deserto ... É a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela ... Todos sabem manejar a espada. O rei fez para si um palanquim de madeira do Líbano ... colunas de prata, assento de púrpura e tudo interiormente ornado com amor pelas filhas de Jerusalém.” 3.6-10

O tirano não sabe amar, ter uma relação de diferentes-iguais. Empreende um desfilar de seus dotes e bens, de sua bem equipada e treinada guarda pessoal. Exibe seu poder, sua sedução está na força. Tudo pelo amor. Inútil! Tais lisonjas não se coadunam com a expectativa da outra pessoa que quer se deixar conquistar, seduzir, não ser conquistada, seduzida à força.
A estratégia não sensibiliza a moça, antes, causa uma resistência:

“O meu amado é meu e eu sou dele ...” 2.16a

A resistência vem em forma de amor. É amando espontânea, sincera e verdadeiramente que se faz resistência ao poder e brutalidade da tirania sutil que assalta toda relação a dois. A ela se responde com um amor suave e delicado, forte como a morte.
O mais sublime dos Cânticos é uma canção de resistência, como o é a canção de Vandré. Resistência ao poder sorrateiro que quer impor uma relação e impor-se na relação. Contra tal:

“há que endurecer, porém sem perder a ternura.” (Chê)

O perfume exalado de uma relação de diferentes-iguais estão nas flores às vossas mãos. Às mãos daqueles que:

”acreditam nas flores vencendo os canhões”
Amém.




Rev. Dr. José Roberto Cristofani é Pastor da Igreja Presbiteriana Independente, Doutor em Bíblia e Educador.


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